
Comunicação de pessoas autistas e arteterapia: Como a ela ajuda
Como a arteterapia pode ajudar na comunicação de pessoas autistas?
Comunicação de pessoas autistas e arteterapia: Muitas pessoas no espectro autista enfrentam desafios quando se trata de comunicação verbal, expressão emocional e interação social. No entanto, isso não significa que elas não se comuniquem – muito pelo contrário. Na verdade, a comunicação acontece, sim, mas frequentemente de formas diferentes, mais sensoriais, visuais ou simbólicas.
E é justamente aqui que a arteterapia se torna uma ferramenta extremamente poderosa. Afinal, ela oferece um espaço seguro, livre de julgamentos, onde a pessoa pode se expressar sem precisar depender da fala, utilizando cores, formas, texturas, imagens e símbolos como sua própria linguagem.
Portanto, através do processo criativo, surge uma nova possibilidade de se comunicar, se expressar e, consequentemente, se fazer entender – de forma autêntica, respeitosa e absolutamente acolhedora.
O que dizem os estudos sobre arteterapia e comunicação no TEA?
Diversas pesquisas apontam os benefícios da arteterapia para pessoas autistas, especialmente no desenvolvimento da comunicação, da expressão emocional e das habilidades sociais.
Por exemplo, um estudo publicado na American Journal of Art Therapy (2018) demonstra que, ao acessar formas não verbais de expressão, a pessoa no espectro consegue construir pontes de comunicação que são mais naturais e confortáveis para ela.
Além disso, a própria AATA (American Art Therapy Association) reforça que a arteterapia contribui significativamente para:
- ✔ Desenvolvimento da comunicação não verbal e simbólica
- ✔ Melhora na expressão emocional
- ✔ Fortalecimento da autorregulação sensorial e emocional
- ✔ Aumento da autoconfiança e da autonomia na comunicação
Benefícios da arteterapia para a comunicação de pessoas autistas
Ao escolher a arteterapia, a pessoa no espectro encontra não só um espaço de criação, mas também de escuta, acolhimento e construção de significado. Entre os principais benefícios, estão:
- ✔ Ampliação das formas de se comunicar (visual, simbólica, sensorial)
- ✔ Aumento da compreensão de si e do outro
- ✔ Redução de estresse e sobrecarga sensorial
- ✔ Melhora da autoestima e da autoconfiança
- ✔ Desenvolvimento de habilidades sociais, quando desejado
- ✔ Fortalecimento da expressão emocional, mesmo sem uso da linguagem verbal
Como funciona na prática?
Durante uma sessão de arteterapia, a pessoa autista não precisa, necessariamente, falar. Na verdade, ela pode se expressar livremente usando os materiais disponíveis: tintas, lápis, argila, tecidos, colagens, papéis, linhas e tudo aquilo que fizer sentido para seu jeito de se comunicar.
Enquanto cria, está, na verdade, se comunicando – consigo, com o terapeuta e, muitas vezes, com o mundo.
O arteterapeuta, por sua vez, não interpreta a obra de forma literal. Ao contrário, ele oferece um espaço seguro onde o processo criativo é acolhido como uma linguagem legítima. Dessa forma, juntos constroem pontes de compreensão, significado e expressão.
Além disso, as sessões são sempre adaptadas às necessidades sensoriais e emocionais de cada pessoa.
A arteterapia substitui outras formas de comunicação?
Não. Na verdade, ela não substitui, ela complementa. A arteterapia não busca forçar que a pessoa se comunique de um jeito específico – seja verbal, seja não verbal. Pelo contrário, ela amplia as possibilidades, oferecendo um caminho de expressão que pode ser muito mais confortável, natural e autêntico.
Para algumas pessoas, a arteterapia serve como apoio ao desenvolvimento da comunicação verbal. Para outras, ela se torna uma linguagem em si – tão válida quanto qualquer outra.
Vivências arteterapêuticas que ajudam na comunicação de pessoas autistas
Cada pessoa é única, por isso as propostas são sempre pensadas de forma personalizada. No entanto, algumas vivências costumam ser muito potentes nesse processo:
1. Criação de si mesmo como personagem
Permite que a pessoa se expresse sobre quem é, o que sente, o que gosta e o que não gosta, sem precisar usar a fala.
2. Montagem de colagens sobre preferências
Ajuda a construir uma linguagem visual, facilitando a expressão de estados emocionais, interesses ou necessidades.
3. Modelagem de espaço seguro
Através da argila ou massinha, cria-se um espaço, objeto ou ambiente que represente segurança, conforto ou algo que você queira comunicar.
4. Pintura com foco sensorial
Permite explorar texturas, cores e movimentos, ao mesmo tempo em que oferece uma experiência reguladora e expressiva.
5. Diário visual ou mapa simbólico
Ajuda a pessoa a organizar suas ideias, sentimentos e experiências em imagens, símbolos e formas, tornando mais fácil expressar o que está dentro. O diário de sentimentos também é uma boa alternativa!
⚠️ Importante: Embora seja possível experimentar práticas artísticas em casa, o acompanhamento com um arteterapeuta faz toda a diferença. O profissional oferece suporte, segurança, escuta e adapta cada proposta às necessidades específicas da pessoa no espectro, tornando o processo muito mais seguro, significativo e transformador.
Conclusão
A arteterapia não é só uma forma de fazer arte — é uma linguagem legítima, sensível e potente. Para pessoas autistas, ela pode ser uma ponte fundamental na construção de comunicação, expressão e conexão com o mundo e consigo mesmas.
Através das cores, das formas, dos símbolos e dos materiais, o que antes parecia difícil de expressar, ganha espaço, voz e, principalmente, significado.
Portanto, se comunicar não é apenas falar — é ser visto, ser compreendido e ser acolhido na sua forma única de existir no mundo. E a arteterapia oferece exatamente isso: um caminho de expressão onde você não precisa caber em nenhuma caixinha.

Fontes e referências:
- American Journal of Art Therapy (2018)
- AATA — American Art Therapy Association, www.arttherapy.org
- Ciornai, S. (1995). Arteterapia: O resgate da criatividade na vida. Summus Editorial.
- Rogers, N. (2012). The Creative Connection: Expressive Arts as Healing. Science & Behavior Books.
- Silva Jardim, A. et al. (2020). Art Therapy for Emotional Self-Regulation: A Review. Journal of Aging Studies.