“Parei de fazer as coisas que eu gosto”: O que isso significa?

“Parei de fazer as coisas que eu gosto”: O que isso significa?

Se você tem sentido que parou de fazer as coisas que antes gostava, saiba que não está sozinho. Embora pareça algo pequeno, esse afastamento pode ser um sinal importante de que algo dentro de você está pedindo atenção.

Neste post, vamos conversar com carinho sobre o que isso pode indicar, o que a ciência diz, e de que forma a arteterapia pode ajudar nesse processo de reconexão com você mesma.

O que significa quando paramos de fazer o que gostamos?

Em muitos casos, parar de fazer atividades prazerosas está diretamente ligado a quadros de esgotamento emocional, estresse crônico e, sobretudo, sintomas de depressão. Além disso, esse afastamento também pode surgir como consequência de sobrecarga, ansiedade, baixa autoestima ou até mesmo pela falta de motivação e energia.

Segundo a American Psychiatric Association (APA), uma das principais características da depressão é justamente a anedonia – ou seja, a perda de interesse ou prazer em atividades que antes eram apreciadas. Portanto, se você percebe que deixou de lado hobbies, práticas de autocuidado ou momentos de lazer, é importante observar com carinho o que pode estar por trás disso.

O que a ciência diz sobre isso?

Pesquisas indicam que a perda de interesse está entre os sintomas mais recorrentes da depressão. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), essa falta de prazer é um critério essencial para o diagnóstico. Além disso, estudos apontam que, ao longo do tempo, o afastamento do que gera bem-estar pode agravar quadros emocionais.

Por outro lado, a psicologia positiva e a neurociência vêm demonstrando que retomar gradualmente atividades significativas – mesmo que em pequenas doses – pode gerar impactos positivos no humor, na autoestima e na sensação de propósito.

Além disso, pesquisas como as de Treadway & Zald (2011) mostram que, quando o cérebro está em sofrimento, há uma diminuição da dopamina, neurotransmissor diretamente relacionado à motivação e ao prazer. Ou seja: parar de fazer o que se ama não é “preguiça” ou “frescura”, mas um sinal importante do sistema nervoso de que algo precisa ser acolhido.

É sempre depressão?

Nem sempre. Embora seja um dos sintomas centrais da depressão, essa sensação também pode estar presente em momentos de crise, transição ou até mesmo em períodos de autonegligência emocional.

Por isso, é essencial observar se outros sinais estão aparecendo juntos – como cansaço excessivo, baixa autoestima, pensamentos negativos frequentes, dificuldade de concentração, entre outros. Se sim, buscar ajuda psicológica pode ser um passo importante.

Como a arteterapia pode ajudar?

A arteterapia, por meio da expressão simbólica e da criação, ajuda a resgatar o contato com aquilo que te faz bem. Quando estamos tristes, muitas vezes é difícil colocar sentimentos em palavras. Nesse sentido, o fazer artístico se torna uma ponte entre o que está dentro e o que pode ser acolhido e ressignificado.

Além disso, criar com as mãos, cores e formas ativa regiões do cérebro ligadas à motivação e à emoção. Aos poucos, com suporte profissional, é possível se reconectar com seus próprios desejos, vontades e gostos – mesmo que de maneira sutil e gradual.

Portanto, Segundo Cathy Malchiodi (2005), a arteterapia facilita o acesso às camadas mais profundas da psique, permitindo o surgimento de novos significados e caminhos de cura.

Um exercício simples pra mapear seus gostos: O Gostograma

Se você sente que está meio perdido em relação ao que gosta – ou se sente distante de si mesmo – esse exercício pode ser um ponto de partida:

  1. Pegue uma folha e divida em quatro partes.
  2. Em cada quadrado, escreva:
  • O que eu gosto e faço
  • O que eu gosto e não faço
  • O que eu não gosto e faço
  • O que eu não gosto e não faço
  1. Reflita sobre o que apareceu em cada parte. Há algo que você gostaria de mudar? Qual pequena ação pode te ajudar a trazer mais daquilo que você ama pro seu dia a dia?

Esse exercício pode abrir caminhos de reflexão e, com o tempo, se transformar em um guia de reconexão com você mesmo.

Conclusão

Parar de fazer as coisas que você gosta não é frescura. É, na verdade, um sinal de que algo em você precisa de acolhimento, escuta e cuidado. A arteterapia pode ser uma forma sensível, criativa e profunda de começar essa jornada de volta pra si – e você merece esse carinho.

Parei de fazer as coisas que eu gosto
Parei de fazer as coisas que eu gosto

Fontes utilizadas:

  • American Psychiatric Association. (2014). DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Artmed. Cita a anedonia como um dos critérios diagnósticos centrais da depressão.
  • Treadway, M. T., & Zald, D. H. (2011). Reconsidering anhedonia in depression: Lessons from translational neuroscience. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 35(3), 537–555. Estudo que investiga os circuitos cerebrais relacionados à motivação e prazer em quadros depressivos.
  • UBAAT — União Brasileira de Associações de Arteterapia. https://ubaat.org.br Referência nacional sobre práticas e regulamentação da arteterapia.
  • Levine, P. A. (2010). O despertar do tigre: Curando o trauma. Summus Editorial. Trata da importância da expressão corporal e criativa para regular emoções e recuperar o equilíbrio emocional.

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Arteterapia é indicada para depressão?

Arteterapia é indicada para depressão?

Se você está passando por um momento difícil, sentindo tristeza constante, desânimo, apatia ou até aquela sensação de vazio que não passa, saiba que você não está sozinho. Na verdade, a depressão é considerada uma das condições emocionais mais comuns no mundo.

Mas existe, sim, uma boa notícia: a arteterapia é uma ferramenta reconhecida e extremamente eficaz no enfrentamento da depressão. E isso não é apenas uma percepção dos profissionais da área, mas também algo amplamente comprovado pela ciência, por pesquisas e pela prática clínica.

Ao longo desse artigo, você vai entender exatamente como e por que a arteterapia ajuda no alívio da depressão, de que forma ela atua na mente e nas emoções e, principalmente, como isso acontece na prática.

Afinal, o que é depressão – e como ela impacta sua vida?

Antes de tudo, é fundamental compreender que depressão não é frescura, não é preguiça e, muito menos, falta de força de vontade. Na verdade, trata-se de uma condição de saúde mental séria, que afeta diretamente o humor, os pensamentos, as emoções, o corpo e até as relações.

Quem vive a depressão frequentemente sente:

  • Tristeza profunda, que não passa com o tempo;
  • Desânimo, cansaço constante e falta de energia;
  • Perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas;
  • Sensação de vazio, desesperança ou até culpa constante;
  • Alterações no sono, no apetite e na concentração;
  • Pensamentos negativos recorrentes, inclusive sobre si mesma e sobre o futuro.

Portanto, a depressão não afeta apenas o emocional – ela atinge, de forma muito intensa, o corpo, a mente e até a própria percepção de quem você é.

O que acontece no cérebro de quem tem depressão?

Do ponto de vista da neurociência, a depressão está relacionada a uma série de alterações bioquímicas e estruturais no cérebro. Por exemplo:

  • Redução de neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina, que são responsáveis pela regulação do humor, da motivação e da sensação de prazer;
  • Hiperatividade da amígdala cerebral, que gera aumento de pensamentos negativos, autocobrança e percepção de ameaça;
  • Diminuição da atividade no córtex pré-frontal, que prejudica a clareza mental, o raciocínio e a tomada de decisões;
  • E, consequentemente, aumento da ruminação mental, da procrastinação e da sensação de paralisia emocional.

Porém, a boa notícia é que o cérebro tem plasticidade. Isso significa que, com estímulos corretos – como acontece na arteterapia -, ele pode, sim, se reorganizar, criar novas conexões e, pouco a pouco, restaurar seu equilíbrio.

Como, então, a arteterapia ajuda na depressão?

Primeiro, porque oferece um espaço seguro, livre de julgamentos, onde a pessoa pode se expressar de maneira simbólica, mesmo quando as palavras não são suficientes.

Segundo, porque o processo criativo ativa áreas do cérebro responsáveis pela regulação emocional, pela liberação de neurotransmissores do bem-estar e pela construção de novas redes neurais.

Além disso, criar – seja desenhando, pintando, colando, modelando ou escrevendo – ajuda a acessar emoções, organizar pensamentos e aliviar a sobrecarga mental que, muitas vezes, é intensa na depressão.

O fazer artístico permite, também, que a pessoa entre em contato com partes de si que estavam adormecidas, esquecidas ou até sufocadas pela dor. Aos poucos, surge o resgate da autoestima, da autoconfiança, da vitalidade e do senso de pertencimento.

E mais: além de aliviar sintomas, a arteterapia fortalece os recursos internos da pessoa, ajudando-a a desenvolver estratégias para lidar com seus desafios emocionais de forma mais leve e autêntica.

Na prática, como a arteterapia ajuda quem tem depressão?

  • Oferece um espaço acolhedor, sem julgamentos, onde você pode se expressar livremente, mesmo sem palavras.
  • Permite que pensamentos negativos, dores e angústias saiam da mente e se transformem em imagens, símbolos e criações.
  • Ativa neurotransmissores do bem-estar (dopamina e serotonina), reduz cortisol e proporciona alívio emocional.
  • Estimula estados de presença, foco e relaxamento, combatendo o ciclo de ruminação mental típico da depressão.
  • Fortalece a autoestima, a vitalidade e a sensação de pertencimento, ajudando a recuperar, pouco a pouco, o prazer pela vida.

Conclusão: sim, a arteterapia é indicada para depressão

Se você está enfrentando a depressão, saiba que existe, sim, um caminho sensível, criativo e profundamente transformador para se cuidar. A arteterapia te convida a sair, pouco a pouco, desse lugar de dor e isolamento, e te conduz a reencontrar suas cores, sua voz e sua própria força interna.

Aqui, não importa se você sabe desenhar. Não importa se você nunca fez arte na vida. O que importa, de verdade, é que você se permita viver esse processo – e, aos poucos, se redescobrir.

Portanto, se você buscava um sinal, talvez ele seja esse.

Arteterapia é indicada para depressão?
Arteterapia é indicada para depressão?

Referências:

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