Você já ouviu falar no Transtorno de Personalidade Borderline (TPB)? Embora o nome pareça distante, essa condição é mais comum do que parece – e, principalmente, mais humana do que muitos imaginam.
O TPB é um transtorno de personalidade caracterizado por intensas oscilações emocionais, medo profundo de abandono, impulsividade e um sentimento constante de vazio. Pessoas com esse diagnóstico costumam viver relações intensas e marcadas por altos e baixos, e podem sentir o mundo de forma muito mais intensa do que a maioria das pessoas.
Como é o transtorno de personalidade borderline?
O Borderline não é uma “fraqueza emocional”. É uma forma diferente de sentir, reagir e se relacionar. Quem convive com o transtorno pode amar profundamente em um momento e, no instante seguinte, sentir raiva ou medo de perder o vínculo. Pequenas situações – como um atraso, uma mensagem não respondida ou um olhar distante – podem ser interpretadas como rejeição ou abandono.
Essas mudanças de humor acontecem porque a pessoa sente de forma muito intensa. É como se o mundo emocional estivesse sempre no volume máximo.
Estima-se que entre 1,5% e 5,9% da população mundial tenha o transtorno, segundo o DSM-5-TR e o Hospital Albert Einstein. No entanto, muitos casos ainda passam despercebidos ou são confundidos com outros quadros, como depressão, ansiedade ou bipolaridade.
Causas e fatores de risco
A origem do TPB costuma envolver uma combinação de fatores genéticos, biológicos e experiências precoces de vida. Entre os principais fatores associados estão:
experiências traumáticas na infância (como abuso, negligência ou perda de cuidadores);
histórico familiar de transtornos mentais;
e maior sensibilidade emocional desde cedo.
Pesquisas indicam que parentes de primeiro grau têm cinco vezes mais chances de desenvolver o transtorno.
Sintomas mais comuns
Os sintomas podem variar muito de pessoa para pessoa, mas costumam incluir:
medo intenso de ser abandonado;
relações afetivas intensas e instáveis;
mudanças rápidas na autoimagem e nos sentimentos sobre si mesmo;
impulsividade (como gastos excessivos, abuso de substâncias ou comportamento sexual de risco);
sentimentos crônicos de vazio;
dificuldade em controlar a raiva;
automutilação e pensamentos suicidas em momentos de dor emocional intensa.
Esses sintomas não significam falta de força ou de caráter. Eles mostram quanto a dor emocional é real e o quanto o sofrimento merece acolhimento e tratamento adequado.
Convivendo com o TPB
Pessoas com TPB muitas vezes sentem que “são demais” ou “não pertencem a lugar nenhum”. Por isso, é comum que tentem agradar, se anulem ou reajam com intensidade quando percebem rejeição. Essas dinâmicas tornam os relacionamentos desafiadores, tanto para quem convive com o transtorno quanto para quem está por perto.
Porém, com acompanhamento adequado, é possível ter uma vida estável, saudável e com vínculos reais. O diagnóstico não define quem a pessoa é – ele apenas ajuda a entender o que precisa de cuidado.
Tratamento e acolhimento
O tratamento mais indicado é multidisciplinar, envolvendo psicoterapia, acompanhamento psiquiátrico e, quando necessário, o uso de medicação. Entre as abordagens terapêuticas mais eficazes estão:
Terapia Comportamental Dialética (DBT),
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC),
e abordagens analíticas e expressivas, como a arteterapia.
A arteterapia pode ser uma aliada importante, pois permite que sentimentos difíceis encontrem espaço para se expressar através da criação – seja com tintas, formas ou símbolos. Ao representar o que se sente, a pessoa borderline pode começar a organizar o caos interno e reconstruir uma sensação de identidade e pertencimento.
Uma palavra final
Conviver com o borderline é conviver com intensidade. Mas por trás dessa intensidade há um desejo profundo de conexão, amor e aceitação. Essas pessoas não precisam de julgamentos – precisam de compreensão, paciência e cuidado.
Com tratamento e suporte adequados, é possível encontrar equilíbrio e viver de forma plena. E, acima de tudo, o TPB não é o que define uma pessoa, mas apenas uma parte da sua história.
Daniel Bortolin¹ ¹Estudante de Psicologia Analítica Junguiana.
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico de base multifatorial que se manifesta, tipicamente, na infância e pode persistir na vida adulta. Este artigo apresenta uma síntese introdutória sobre conceitos, prevalência estimada, neurobiologia, manifestações clínicas em diferentes faixas etárias, comorbidades frequentes, critérios diagnósticos (DSM-5-TR), tratamentos baseados em evidências e diretrizes legais brasileiras pertinentes ao contexto educacional. Destaca-se a necessidade de avaliação clínica criteriosa, manejo multimodal e psicoeducação para reduzir estigmas e melhorar o prognóstico.
Introdução
A maior visibilidade da saúde mental, a ampliação do acesso a serviços e o aperfeiçoamento de protocolos diagnósticos têm aumentado a identificação adequada de casos de TDAH, sem que isso implique que “todos tenham um pouco do transtorno”. As diretrizes reforçam avaliação criteriosa, história do desenvolvimento e exclusão de causas alternativas (NICE, 2018; CDC, 2024).
O que é TDAH?
O TDAH é um transtorno neurobiológico caracterizado por padrões persistentes de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade, com início na infância, causando prejuízo clinicamente significativo em dois ou mais contextos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2022).
“TDA” ou TDAH?
No uso comum, “TDA” costuma designar a apresentação predominantemente desatenta. No DSM-5-TR, o TDAH apresenta três perfis: (a) predominantemente desatento; (b) predominantemente hiperativo/impulsivo; (c) combinado (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2022).
Panorama neurobiológico
Evidências apontam diferenças funcionais em redes fronto-estriatais, especialmente no córtex pré-frontal, implicadas em controle inibitório, planejamento e memória de trabalho. Também se observam disfunções em dopamina e noradrenalina, que influenciam motivação, atenção sustentada e o sistema de recompensa (NICE, 2018). Tais achados ajudam a compreender fenótipos como procrastinação em tarefas pouco reforçadoras e episódios de hiperfoco em atividades altamente interessantes.
Origem e fatores de risco
O TDAH possui forte componente genético, sem gene único determinante; há contribuição poligênica somada a fatores ambientais (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2022). Em famílias com um membro com TDAH, a chance de outros parentes apresentarem o transtorno é significativamente maior (CDC, 2024).
Sinais e sintomas por faixa etária
1 Crianças e adolescentes
Desatenção (erros por descuido, perda de materiais, dificuldade de sustentar atenção) e hiperatividade/impulsividade (inquietude, interrupções, fala excessiva), com impacto escolar e social (CDC, 2024).
2 Adultos
Predominam desatenção cotidiana, dificuldades de organização e priorização, inquietação interna e impulsividade, com repercussões acadêmicas, ocupacionais e afetivas (NICE, 2018).
Comorbidades frequentes
Transtornos de ansiedade e depressão, transtornos do uso de substâncias, transtornos específicos de aprendizagem (p.ex., dislexia), transtorno desafiador opositor e tiques podem coexistir, exigindo manejo integrado (NICE, 2018).
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico e segue o DSM-5-TR: número mínimo de sintomas por ≥6 meses, início na infância, presença em múltiplos contextos e prejuízo funcional. Entrevistas, escalas validadas e informações de diferentes informantes auxiliam a decisão; não há exame único que “prove” TDAH (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2022; CDC, 2024).
Tratamento
O manejo é multimodal e individualizado: a) Psicoeducação e adaptações ambientais (rotinas, listas, divisão de tarefas); b) Intervenções psicológicas (p.ex., terapia cognitivo-comportamental com foco em organização, planejamento e regulação emocional); c) Farmacoterapia, quando indicada: estimulantes (metilfenidato, lisdexanfetamina) e não-estimulantes (atomoxetina, guanfacina), com monitoramento clínico (NICE, 2018; ABDA, 2025).
Aspectos legais no Brasil
A Lei nº 14.254/2021 estabelece a identificação precoce e o acompanhamento para educandos com TDAH, dislexia e outros transtornos de aprendizagem na educação básica, prevendo apoio pedagógico e integração escola-saúde (BRASIL, 2021).
Mitos e esclarecimentos
Dizer que TDAH é “falta de vontade” ignora sua natureza neurobiológica e os critérios diagnósticos. A discussão sobre “superdiagnóstico” deve considerar riscos de subdiagnóstico em alguns contextos e de excesso em outros, reforçando a avaliação por profissionais habilitados (NICE, 2018; CDC, 2024).
Conclusão
Pessoas com TDAH não são distraídas ou impulsivas por escolha. Trata-se de um modo de funcionamento cerebral distinto, que exige avaliação criteriosa e cuidado multimodal, psicoeducação, intervenções psicológicas, adaptações e, quando indicado, medicação. O manejo adequado reduz estigmas e melhora indicadores de qualidade de vida, desempenho acadêmico/profissional e relações interpessoais.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO (ABDA). TDAH – Associação Brasileira do Déficit de Atenção. São Paulo, 2025. Disponível em: https://tdah.org.br. Acesso em: 22 out. 2025.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 5th ed., text revision (DSM-5-TR). Washington, DC: APA, 2022.
BRASIL. Lei nº 14.254, de 30 de novembro de 2021. Estabelece diretrizes para a identificação e o acompanhamento de educandos com dislexia, TDAH e outros transtornos de aprendizagem na educação básica. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 1 dez. 2021.
CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Diagnosing ADHD. Atlanta, 2024. Disponível em: https://www.cdc.gov/adhd/diagnosis. Acesso em: 22 out. 2025.
NATIONAL INSTITUTE FOR HEALTH AND CARE EXCELLENCE (NICE). Attention deficit hyperactivity disorder: diagnosis and management (NG87). London, 2018. Disponível em: https://www.nice.org.uk/guidance/ng87. Acesso em: 22 out. 2025.