Como a arteterapia pode ajudar na comunicação de pessoas autistas?
Comunicação de pessoas autistas e arteterapia: Muitas pessoas no espectro autista enfrentam desafios quando se trata de comunicação verbal, expressão emocional e interação social. No entanto, isso não significa que elas não se comuniquem – muito pelo contrário. Na verdade, a comunicação acontece, sim, mas frequentemente de formas diferentes, mais sensoriais, visuais ou simbólicas.
E é justamente aqui que a arteterapia se torna uma ferramenta extremamente poderosa. Afinal, ela oferece um espaço seguro, livre de julgamentos, onde a pessoa pode se expressar sem precisar depender da fala, utilizando cores, formas, texturas, imagens e símbolos como sua própria linguagem.
Portanto, através do processo criativo, surge uma nova possibilidade de se comunicar, se expressar e, consequentemente, se fazer entender – de forma autêntica, respeitosa e absolutamente acolhedora.
O que dizem os estudos sobre arteterapia e comunicação no TEA?
Diversas pesquisas apontam os benefícios da arteterapia para pessoas autistas, especialmente no desenvolvimento da comunicação, da expressão emocional e das habilidades sociais.
Por exemplo, um estudo publicado na American Journal of Art Therapy (2018) demonstra que, ao acessar formas não verbais de expressão, a pessoa no espectro consegue construir pontes de comunicação que são mais naturais e confortáveis para ela.
Além disso, a própria AATA (American Art Therapy Association) reforça que a arteterapia contribui significativamente para:
✔ Desenvolvimento da comunicação não verbal e simbólica
✔ Melhora na expressão emocional
✔ Fortalecimento da autorregulação sensorial e emocional
✔ Aumento da autoconfiança e da autonomia na comunicação
Benefícios da arteterapia para a comunicação de pessoas autistas
Ao escolher a arteterapia, a pessoa no espectro encontra não só um espaço de criação, mas também de escuta, acolhimento e construção de significado. Entre os principais benefícios, estão:
✔ Ampliação das formas de se comunicar (visual, simbólica, sensorial)
✔ Aumento da compreensão de si e do outro
✔ Redução de estresse e sobrecarga sensorial
✔ Melhora da autoestima e da autoconfiança
✔ Desenvolvimento de habilidades sociais, quando desejado
✔ Fortalecimento da expressão emocional, mesmo sem uso da linguagem verbal
Como funciona na prática?
Durante uma sessão de arteterapia, a pessoa autista não precisa, necessariamente, falar. Na verdade, ela pode se expressar livremente usando os materiais disponíveis: tintas, lápis, argila, tecidos, colagens, papéis, linhas e tudo aquilo que fizer sentido para seu jeito de se comunicar.
Enquanto cria, está, na verdade, se comunicando – consigo, com o terapeuta e, muitas vezes, com o mundo.
O arteterapeuta, por sua vez, não interpreta a obra de forma literal. Ao contrário, ele oferece um espaço seguro onde o processo criativo é acolhido como uma linguagem legítima. Dessa forma, juntos constroem pontes de compreensão, significado e expressão.
Além disso, as sessões são sempre adaptadas às necessidades sensoriais e emocionais de cada pessoa.
A arteterapia substitui outras formas de comunicação?
Não. Na verdade, ela não substitui, ela complementa. A arteterapia não busca forçar que a pessoa se comunique de um jeito específico – seja verbal, seja não verbal. Pelo contrário, ela amplia as possibilidades, oferecendo um caminho de expressão que pode ser muito mais confortável, natural e autêntico.
Para algumas pessoas, a arteterapia serve como apoio ao desenvolvimento da comunicação verbal. Para outras, ela se torna uma linguagem em si – tão válida quanto qualquer outra.
Vivências arteterapêuticas que ajudam na comunicação de pessoas autistas
Cada pessoa é única, por isso as propostas são sempre pensadas de forma personalizada. No entanto, algumas vivências costumam ser muito potentes nesse processo:
1. Criação de si mesmo como personagem
Permite que a pessoa se expresse sobre quem é, o que sente, o que gosta e o que não gosta, sem precisar usar a fala.
2. Montagem de colagens sobre preferências
Ajuda a construir uma linguagem visual, facilitando a expressão de estados emocionais, interesses ou necessidades.
3. Modelagem de espaço seguro
Através da argila ou massinha, cria-se um espaço, objeto ou ambiente que represente segurança, conforto ou algo que você queira comunicar.
4. Pintura com foco sensorial
Permite explorar texturas, cores e movimentos, ao mesmo tempo em que oferece uma experiência reguladora e expressiva.
5. Diário visual ou mapa simbólico
Ajuda a pessoa a organizar suas ideias, sentimentos e experiências em imagens, símbolos e formas, tornando mais fácil expressar o que está dentro. O diário de sentimentos também é uma boa alternativa!
⚠️ Importante: Embora seja possível experimentar práticas artísticas em casa, o acompanhamento com um arteterapeuta faz toda a diferença. O profissional oferece suporte, segurança, escuta e adapta cada proposta às necessidades específicas da pessoa no espectro, tornando o processo muito mais seguro, significativo e transformador.
Conclusão
A arteterapia não é só uma forma de fazer arte — é uma linguagem legítima, sensível e potente. Para pessoas autistas, ela pode ser uma ponte fundamental na construção de comunicação, expressão e conexão com o mundo e consigo mesmas.
Através das cores, das formas, dos símbolos e dos materiais, o que antes parecia difícil de expressar, ganha espaço, voz e, principalmente, significado.
Portanto, se comunicar não é apenas falar — é ser visto, ser compreendido e ser acolhido na sua forma única de existir no mundo. E a arteterapia oferece exatamente isso: um caminho de expressão onde você não precisa caber em nenhuma caixinha.
Se você já se perguntou se a arteterapia online realmente funciona, saiba que essa é uma dúvida muito comum. Afinal, será que é possível ter a mesma conexão, os mesmos efeitos e os mesmos benefícios sem estar presencialmente na sala do terapeuta?
A resposta, de forma clara e objetiva, é sim, funciona! A arteterapia online funciona, é eficaz e pode gerar transformações profundas. Obviamente, existem algumas adaptações no processo, mas isso não significa perda de qualidade. Muito pelo contrário – para muitas pessoas, o online acaba sendo até mais confortável, acessível e seguro.
O que a literatura e os estudos dizem sobre arteterapia online?
Desde a pandemia, houve um aumento significativo nas pesquisas sobre atendimentos terapêuticos online. Estudos recentes, como o publicado na Art Therapy: Journal of the American Art Therapy Association (2021), apontam que a arteterapia online mantém os principais benefícios da modalidade presencial, incluindo melhora no bem-estar emocional, desenvolvimento da autorregulação, redução da ansiedade e fortalecimento da autoestima.
Além disso, a própria AATA – American Art Therapy Association afirma que, com as ferramentas certas, os atendimentos online são absolutamente viáveis, éticos, seguros e eficientes.
Autores como Natalie Rogers (2012) também destacam que o poder da expressão simbólica não depende do espaço físico, mas sim da qualidade do vínculo, do ambiente de acolhimento e do processo criativo. Portanto, a conexão entre terapeuta, cliente e processo se mantém viva e potente, mesmo através da tela.
Quais são os benefícios da arteterapia online?
Ao escolher a modalidade online, você não perde os benefícios da arteterapia – muito pelo contrário, pode até ganhar alguns extras. Veja os principais:
✔ Acesso fácil e seguro, sem deslocamento
✔ Atendimento no conforto da sua casa, onde se sente mais à vontade
✔ Mantém os benefícios emocionais, cognitivos e sensoriais
✔ Desenvolvimento de autoconhecimento, autocuidado e expressão emocional
✔ Redução da ansiedade, do estresse e da sobrecarga mental
✔ Flexibilidade de horários e acessibilidade para quem mora em qualquer lugar
Além disso, o processo criativo continua acontecendo da mesma forma: com materiais que você já tem em casa, com orientação do arteterapeuta, acolhimento e segurança emocional.
O que muda entre a arteterapia online e presencial?
Na essência, nada muda. Afinal, o que faz a arteterapia acontecer é o encontro entre você, o terapeuta e o processo criativo – e isso é totalmente possível no ambiente virtual.
Porém, existem algumas diferenças práticas, como:
Você usa os materiais que tem em casa (mas o terapeuta te orienta sobre quais escolher)
O espaço físico precisa ser preparado para garantir privacidade, conforto e segurança emocional
O envio e compartilhamento das imagens criadas pode acontecer por foto, vídeo ou na própria câmera durante a sessão
Por outro lado, muitas pessoas relatam que, justamente por estarem no seu próprio ambiente, se sentem ainda mais livres, menos intimidadas e mais à vontade para se expressar.
E se eu não tiver materiais em casa?
Acredite: não precisa ter um ateliê ou materiais sofisticados! A arteterapia online se adapta à sua realidade. Muitas vivências podem ser feitas apenas com papel e caneta, lápis de cor, canetinhas ou até materiais recicláveis, revistas velhas, pedaços de papel e tesoura.
Inclusive, o processo se torna ainda mais simbólico quando você cria com o que tem à mão. Afinal, isso também é uma metáfora poderosa sobre acolher quem você é e o que você tem hoje, sem esperar o cenário ideal para começar a cuidar de si.
Vivências e atividades de arteterapia online (e o que esperar de uma sessão)
Durante uma sessão de arteterapia online, o processo flui de forma muito parecida com o presencial. O terapeuta guia, acolhe e propõe vivências que podem incluir:
✔ Desenhos livres ou dirigidos
✔ Pinturas intuitivas
✔ Colagens com materiais simples (revistas, papel, tecido)
✔ Escrita terapêutica, mapas visuais, mandalas
✔ Modelagem (caso tenha massinha ou argila em casa)
✔ Criações simbólicas que refletem seus sentimentos, emoções e histórias
E vale sempre lembrar: Embora seja possível fazer atividades criativas por conta própria, o acompanhamento de um arteterapeuta faz toda a diferença. Com ele, você conta com acolhimento profissional, segurança emocional e, principalmente, com a condução ética e sensível que faz o processo ser muito mais transformador.
Conclusão: arteterapia online funciona, sim!
Se você sente vontade de experimentar, mas ainda tinha receio, saiba que a arteterapia online não só funciona, como pode ser tão transformadora quanto — e, em muitos casos, até mais acessível, confortável e potente.
Através das telas, continua existindo o acolhimento, a escuta, o espaço simbólico e a possibilidade de se reconectar consigo. Afinal, o que cura não é o lugar físico, mas sim o encontro: com o terapeuta, com o processo criativo e, acima de tudo, com você.
Uma sessão online de arteterapia pode ser enriquecedora!
Fontes e referências:
Art Therapy: Journal of the American Art Therapy Association (2021)
Por que é tão difícil desenvolver autocompaixão e amor próprio na vida adulta?
Muitas vezes crescemos ouvindo críticas, cobranças e vivendo em ambientes onde nossos sentimentos não foram validados. Por isso, aprendemos a sermos exigentes, duros e até cruéis conosco. Sem perceber, entramos em ciclos de autossabotagem, baixa autoestima e excesso de autocrítica.
No entanto, é fundamental entender que ninguém nasce se odiando. Essa desconexão com o amor próprio é algo aprendido – e, felizmente, também pode ser desaprendido. A arteterapia surge justamente como um caminho seguro e gentil para essa reconexão consigo, porque trabalha não apenas o pensamento, mas também as emoções, o corpo e a expressão simbólica.
Como a arteterapia ajuda a construir autocompaixão e amor próprio
Diferente de terapias focadas apenas na fala, a arteterapia convida você a se expressar de forma simbólica, sensorial e não verbal. Isso significa acessar suas emoções por meio de cores, formas, linhas, texturas e materiais diversos.
De acordo com Ciornai (1995), o processo criativo em arteterapia permite acessar conteúdos inconscientes de maneira segura, favorecendo o acolhimento das próprias fragilidades e o fortalecimento interno.
Portanto, quando você cria, não apenas elabora aquilo que sente, como também aprende a olhar para si com mais compreensão, menos julgamento e, principalmente, mais amor.
Além disso, estudos como o de Silva Jardim et al. (2020) demonstram que práticas artísticas e expressivas favorecem o desenvolvimento da autocompaixão, além de reduzir significativamente o estresse e a ansiedade.
Benefícios da arteterapia para quem busca desenvolver autocompaixão
✔ Aumento da aceitação de si mesmo
✔ Redução da autocrítica e do julgamento interno
✔ Fortalecimento da autoestima de forma genuína
✔ Desenvolvimento de uma relação mais amorosa consigo
✔ Redução de ansiedade e estresse gerados pela autocobrança
✔ Criação de uma nova narrativa interna, mais gentil e compassiva
Como funciona esse processo na prática?
Durante uma sessão de arteterapia, você é convidado a utilizar materiais como papel, tintas, argila, colagens ou qualquer outro elemento que possibilite a livre expressão.
Dessa forma, o que vive dentro de você começa a ganhar forma, cor e textura. Assim, conteúdos emocionais, pensamentos e sensações que, muitas vezes, estão adormecidos ou reprimidos, podem ser expressos com segurança.
Além disso, o processo não exige nenhuma habilidade artística. Afinal, o objetivo não é criar uma obra bonita, mas sim viver uma experiência de conexão, escuta e acolhimento de si.
Ao refletir sobre aquilo que criou, você inicia um movimento interno muito poderoso: começa a enxergar a si mesmo de forma mais amorosa, com mais empatia, compreensão e respeito.
Como a arte atua no fortalecimento do amor próprio
A arte tem o poder de tornar visível aquilo que muitas vezes não conseguimos traduzir em palavras. Portanto, quando você desenha, pinta, modela ou cria, abre espaço para olhar para si de outro jeito – não mais apenas pelo olhar da crítica, mas sim pelo olhar da aceitação.
Durante esse processo, percebe que, assim como sua criação não precisa ser perfeita, você também não precisa ser. Na verdade, é justamente nas imperfeições que mora sua beleza, sua singularidade e sua potência.
Portanto, ao reconhecer suas partes vulneráveis, seus talentos esquecidos e até suas dores, você começa a construir uma relação mais amorosa e compassiva consigo.
Atividades e vivências arteterapêuticas para começar sozinho
Se você sente vontade de experimentar, aqui estão algumas propostas simples, mas muito potentes, que você pode fazer em casa. No entanto, é importante lembrar que, quando realizadas dentro de um processo conduzido por um arteterapeuta, essas vivências se tornam ainda mais profundas, seguras e transformadoras.
1. Desenho do autocuidado
Pegue folhas, lápis ou canetinhas. Desenhe, escreva ou represente tudo o que te faz bem, tudo o que te cuida, te nutre e te acolhe.
2. Carta visual para si mesmo
Em vez de escrever, faça uma carta com imagens, colagens, símbolos e cores que representem uma mensagem de amor, carinho e incentivo para você mesmo.
3. Espelho simbólico
Desenhe um espelho na folha. No centro, desenhe ou cole elementos que representam quem você é além das críticas e exigências: suas qualidades, seus talentos, suas potências e sua essência.
4. Argila do acolhimento
Se tiver argila ou massinha, modele uma forma que represente cuidado, segurança ou acolhimento. Pode ser uma casinha, um coração, uma concha, ou qualquer coisa que faça sentido pra você.
5. Círculo do amor próprio
Desenhe um círculo e preencha-o com cores, formas, texturas, rabiscos ou palavras que expressem como seria um espaço interno onde você se sente seguro, amado e aceito exatamente como é.
Por que fazer com um arteterapeuta é diferente?
Quando fazemos esses exercícios sozinhos, eles já têm um grande valor – promovem autocuidado, bem-estar e momentos de reconexão. Porém, no setting arteterapêutico, o processo é muito mais profundo.
O arteterapeuta não só acolhe e guia o processo, como também ajuda na interpretação simbólica, propõe reflexões que talvez você não faria sozinho e segura o espaço emocional de forma ética e segura. Isso permite que traumas sejam acessados de forma cuidadosa e que o desenvolvimento da autocompaixão se torne algo consistente, não apenas pontual.
Conclusão
Desenvolver amor próprio e autocompaixão não é um destino, mas sim um caminho. E, na arteterapia, esse caminho se constrói com cores, formas, texturas e símbolos que te ajudam a lembrar quem você é de verdade – muito além da autocrítica, das cobranças e dos padrões externos.
Permita-se começar. A cada rabisco, cada colagem, cada pintura ou modelagem, você dá um passo a mais em direção a um relacionamento mais amoroso, gentil e compassivo consigo.
Fontes e referências:
Ciornai, S. (1995). Arteterapia: O resgate da criatividade na vida. Summus Editorial.
Rogers, N. (2012). The Creative Connection: Expressive Arts as Healing. Science & Behavior Books.
Silva Jardim, A. et al. (2020). Art Therapy for Emotional Self-Regulation: A Review. Journal of Aging Studies.
Martins, D. (2024). Arte‑Terapia, Criatividade e Simbolismo. Editora Psique.
“The power of art therapy in developing self‑compassion” – artigo online publicado pelo Greater Chicago Art Therapy Institute, que explica como a arteterapia ajuda a criar imagens de si mesmo que permitem romper padrões mentais e desenvolver autocompaixão
A criatividade não é um dom, é uma habilidade – e ela pode ser resgatada
Desde a infância, somos naturalmente criativos. Entretanto, ao longo da vida, essa criatividade muitas vezes se perde. Afinal, as responsabilidades, as pressões e o excesso de autocobrança acabam sufocando o espaço do lúdico.
No entanto, é fundamental entender que criatividade não é um dom reservado para poucos. Pelo contrário, ela é uma habilidade natural e universal. A arteterapia, portanto, surge como um caminho seguro, sensível e potente para resgatar essa habilidade que, apesar de adormecida, nunca deixou de existir.
De acordo com Ciornai (1995), a arteterapia proporciona um ambiente livre de julgamentos, onde o ato de criar não é voltado para o resultado, mas sim para o processo. Assim, ela oferece uma oportunidade de reconexão com quem você é – de forma espontânea e autêntica.
Por que perdemos a criatividade na vida adulta?
Esse é um fenômeno bastante comum. À medida que crescemos, somos condicionados a priorizar a produtividade, os resultados e as obrigações. Como consequência, a espontaneidade vai sendo deixada de lado.
Além disso, muitas pessoas crescem ouvindo críticas como “você não sabe desenhar” ou “você não leva jeito para isso”. Por isso, formam crenças limitantes que bloqueiam a expressão criativa. Contudo, a criatividade não tem relação com estética ou técnica. Na verdade, ela tem muito mais a ver com liberdade, conexão consigo e coragem para se expressar sem medo.
A arteterapia, portanto, oferece um espaço seguro onde é possível criar sem julgamentos, sem cobranças e, principalmente, sem a necessidade de agradar a ninguém.
O que a ciência e a arteterapia dizem sobre resgatar a criatividade
Natalie Rogers (2012), criadora da abordagem Expressive Arts Therapy, reforça que a criatividade é uma expressão natural e vital de todo ser humano. Segundo ela, quando nos conectamos genuinamente com nossos sentimentos, pensamentos e sensações, a criatividade flui de maneira espontânea e libertadora.
Além disso, pesquisas como a de Silva Jardim et al. (2020) comprovam que atividades artísticas realizadas de forma livre e espontânea – mesmo sem pretensões estéticas – são capazes de gerar bem-estar emocional, reduzir níveis de estresse, melhorar a autoestima e, ainda, estimular a neuroplasticidade cerebral.
Daniela Martins (2024) complementa que a arteterapia funciona como uma ponte entre o mundo interno e o externo. Através dos símbolos, das cores e das formas, podemos acessar conteúdos inconscientes, ressignificar nossas vivências e, consequentemente, desbloquear processos criativos que estavam adormecidos.
Como a arteterapia resgata sua criatividade na prática
✔ Desbloqueio da expressão espontânea
Ao utilizar materiais como papel, tinta, argila ou colagem, você ativa áreas do cérebro responsáveis pela imaginação, pela empatia e pela capacidade de criação. E, justamente por não haver um padrão estético, o processo se torna leve, livre e profundamente transformador.
✔ Afastamento do julgamento
Na arteterapia, não existe certo ou errado. Portanto, você não precisa se preocupar se “está bonito” ou “se tem técnica”. O foco é na experiência, não no resultado. Isso permite que você se reconecte com sua criatividade de forma genuína e sem medo.
✔ Acesso ao inconsciente e reorganização interna
Enquanto você cria, seu inconsciente trabalha. Afinal, o ato de desenhar, pintar, colar ou modelar é uma forma poderosa de dar voz a emoções e pensamentos que, muitas vezes, nem sabemos que carregamos. Isso abre espaço para reorganizar sua vida emocional e, ao mesmo tempo, ativar processos criativos naturais.
Etapas para começar a resgatar sua criatividade com arteterapia
1. Crie um ambiente acolhedor
Escolha um espaço onde você se sinta confortável. Não precisa ser perfeito – pode ser sua mesa de trabalho, um cantinho na sala ou até mesmo o chão, com uma toalha aberta. O mais importante é que seja um espaço livre de julgamentos.
2. Separe materiais acessíveis
Você não precisa gastar muito. Papel, lápis, canetinhas, tintas simples, revistas velhas para colagem, tesoura e cola já são mais do que suficientes. Se quiser, pode incluir também argila, tecidos ou qualquer material que te inspire.
3. Comece sem expectativas
Permita-se criar sem pensar no que vai sair. Pinte, desenhe, rabisque, rasgue, cole. O objetivo não é fazer arte bonita – é simplesmente se permitir estar presente no ato de criar.
4. Observe e reflita sobre o processo
Depois de criar, olhe para sua obra com curiosidade, não com crítica. Pergunte-se: O que eu senti enquanto criava? O que essa imagem me provoca? Existe alguma mensagem aqui para mim?
5. Transforme isso em prática regular
Embora uma única experiência já traga benefícios, é na constância que a transformação acontece. Portanto, sempre que puder, reserve um momento na sua semana para se encontrar com você mesmo através da arte.
Benefícios de usar arteterapia para resgatar a criatividade
✔ Diminuição do estresse e da ansiedade
✔ Aumento da autoestima e da confiança pessoal
✔ Desenvolvimento da inteligência emocional
✔ Melhora na resolução de problemas e na flexibilidade mental
✔ Fortalecimento da conexão consigo mesmo
✔ Resgate da espontaneidade, da alegria e da leveza na vida adulta
Resgatar sua criatividade na vida adulta é, antes de tudo, um ato de autocuidado. É reconhecer que, por trás das obrigações, das responsabilidades e da correria, existe uma parte sua que ainda deseja brincar, experimentar e criar.
Portanto, se dê esse presente. Você não precisa ser artista, não precisa dominar nenhuma técnica. Você só precisa se permitir viver o processo. Porque, na arteterapia, o que vale não é o que você faz — é o que você sente, descobre e transforma dentro de você enquanto faz.
Fontes e referências
Ciornai, S. (1995). Arteterapia: O resgate da criatividade na vida. Summus Editorial.
Rogers, N. (2012). The Creative Connection: Expressive Arts as Healing. Science & Behavior Books.
Silva Jardim, A. et al. (2020). Contributions of art therapy to promoting the health and quality of life of older adults. Journal of Aging Studies.
Martins, D. (2024). Arte‑Terapia, Criatividade e Simbolismo. Editora Psique.
“Arteterapia: a arte como instrumento no trabalho do Psicólogo” (Reis, 2014), disponível em PDF no ResearchGate.
Arte e estresse: Um estudo conduzido pela Universidade de Drexel, na Filadélfia (EUA), investigou como práticas artísticas influenciam os níveis de estresse. Participaram do experimento 39 adultos entre 18 e 59 anos, com diferentes níveis de experiência em arte – desde pessoas criativas até aquelas que se consideravam “sem nenhum talento”.
Durante o estudo, os participantes ficaram 45 minutos envolvidos em atividades como pintura, colagem e desenho livre. Antes e depois da sessão, os pesquisadores mediram os níveis de cortisol, o principal hormônio relacionado ao estresse.
O resultado foi surpreendente: a maioria apresentou uma redução significativa do cortisol, independentemente do nível de habilidade. Ou seja, mesmo quem nunca tinha criado nada antes pôde sentir os benefícios. Além disso, muitos relataram sensações de relaxamento, prazer e “presença no momento”, mesmo que estivessem em dias agitados.
Portanto, o estudo mostrou que a prática artística – ainda que simples e espontânea – pode ser um recurso potente de autocuidado emocional e regulação fisiológica. Não é à toa que tantas pessoas têm buscado esse caminho como forma de aliviar as pressões do dia a dia.
O que o estudo mostrou
Segundo o estudo da Universidade de Drexel, bastaram 45 minutos de criação artística – como pintura, colagem ou desenho – para que os níveis de cortisol caíssem significativamente. O mais interessante foi que não importava se a pessoa sabia desenhar ou não.
Em outras palavras, não é a técnica que importa, mas sim o ato de criar com liberdade e entrega. Muitos participantes relataram se sentir mais relaxados, menos ansiosos e com maior sensação de bem-estar logo após a experiência. Inclusive, houve relatos de quem, mesmo estando estressado antes, saiu da sessão com leveza e clareza mental.
Além disso, o estudo demonstrou que até pessoas com altos níveis de estresse conseguiram se beneficiar da atividade artística – o que reforça o poder regulador da arte tanto no corpo quanto na mente.
Por que isso importa?
Hoje em dia, vivemos em um ritmo que cobra produtividade, foco constante e respostas rápidas. Isso tem elevado os níveis de estresse de forma preocupante -e muitas pessoas ainda não conseguem ou não desejam recorrer imediatamente a medicamentos.
Por esse motivo, estudos como este são fundamentais. Eles oferecem evidência científica de que a arte pode ser um caminho acessível, barato e seguro para aliviar tensões.
Além do mais, criar sem julgamento ajuda a reconectar a pessoa com o prazer do fazer, com o próprio corpo e com o presente. Em vez de exigir performance, esse tipo de prática oferece liberdade, pausa e reconexão interna.
Dessa forma, a notícia reforça que práticas simples, como desenhar por prazer, também são formas válidas de cuidar da saúde mental.
Como aplicar no dia a dia?
Você não precisa de um ateliê nem de materiais caros. Na prática, bastam lápis de cor, folhas, uma caixa de colagem ou um potinho de tinta para começar.
A dica é simples: reserve entre 30 e 45 minutos para criar sem pressa, sem meta e sem expectativas estéticas. Você pode desenhar formas abstratas, rabiscar sentimentos, montar colagens intuitivas ou simplesmente explorar cores com as mãos.
Com o tempo, esse momento pode se tornar um verdadeiro ritual de reconexão com você mesmo — uma forma de regular a mente, liberar emoções e recuperar o prazer de criar só por criar. Mesmo que pareça simples, esse gesto cotidiano pode ter um impacto profundo.
O que isso tem a ver com arteterapia?
Embora o estudo tenha investigado a arte como prática livre, os efeitos observados se conectam profundamente com a proposta da arteterapia. Afinal, o foco da prática arteterapêutica também está no processo criativo como caminho de expressão, elaboração simbólica e regulação emocional.
Por isso, entender que a arte impacta diretamente no corpo e nas emoções reforça o valor de espaços terapêuticos onde se pode criar com segurança, escuta e acolhimento.
Além disso, ao unir ciência e sensibilidade, esse tipo de notícia valida aquilo que terapeutas e pacientes vivenciam na prática: que a arte é um caminho legítimo de cuidado.
Criar não precisa ser bonito. Nem certo. Nem útil. Criar pode ser apenas necessário. E, como mostram estudos como esse, a arte é sim uma forma poderosa de se regular, se cuidar e se ouvir com mais gentileza.
Se você tem vivido dias acelerados, difíceis ou emocionalmente sobrecarregados, talvez sentar e se permitir experimentar com a arte seja um bom começo.