Se você já pensou em fazer arteterapia, existe uma dúvida que, provavelmente, passou pela sua cabeça: “Mas… eu preciso saber desenhar pra isso?”

Se essa pergunta te travou, te deixou inseguro ou até mesmo fez você desistir da ideia, saiba que você não está sozinho. Na verdade, essa é uma das dúvidas mais comuns quando alguém começa a se interessar pela arteterapia — e, sinceramente, é uma dúvida muito legítima.

Afinal, crescemos ouvindo coisas como “eu não sei desenhar”, “minha arte é feia”, “sou péssimo em coisas manuais”. Além disso, essa crença, que muitas vezes se constrói desde a infância, acaba criando um bloqueio enorme em relação à própria criatividade e autoexpressão.

Por isso, é muito importante esclarecer, de forma direta e definitiva: Não, você não precisa saber desenhar, pintar, modelar ou “ter talento artístico” pra fazer arteterapia.

Por que, então, a arte é usada na arteterapia?

Essa é uma das perguntas mais importantes e também uma das mais reveladoras sobre o que, de fato, é a arteterapia.

Aqui vai a chave pra entender tudo isso: Na arteterapia, a arte não é sobre estética. Não é sobre técnica. E, definitivamente, não é sobre beleza.

Na verdade, a arte é utilizada como uma linguagem simbólica. Ou seja, ela se torna uma forma de expressar sentimentos, emoções, pensamentos e experiências internas que, muitas vezes, são difíceis de acessar ou até impossíveis de colocar em palavras.

Inclusive, Carl Gustav Jung, um dos principais teóricos que fundamentam a arteterapia, já falava muito sobre isso. Ele defendia que a criação de imagens não é apenas uma atividade artística – é uma ponte direta com o inconsciente, um caminho de autoconhecimento e de integração psíquica.

Da mesma forma, Nise da Silveira, psiquiatra brasileira pioneira no uso da arte como recurso terapêutico, percebeu, ainda na década de 1940, que o fazer artístico não era apenas uma produção estética, mas sim uma expressão psíquica extremamente potente. Ao trabalhar com pacientes psiquiátricos, ela percebeu que as produções artísticas falavam muito mais sobre os processos internos dessas pessoas do que qualquer exame clínico poderia revelar (SILVEIRA, 1992).

Portanto, fica claro que a arte, dentro da arteterapia, é usada como uma ferramenta de expressão simbólica, de conexão com o inconsciente e, sobretudo, de acolhimento e transformação emocional.

Mas… e se eu não sei desenhar?

Perfeito. A verdade é que você não precisa saber. A arteterapia, ao contrário do que muita gente pensa, não se importa se você desenha bem, se faz bonecos de palito, se sua pintura não tem perspectiva, se seu recorte ficou torto ou se sua escultura parece meio esquisita.

E sabe por quê? Porque o que importa não é o produto final. O que realmente importa é o processo:

  • O que acontece dentro de você enquanto você cria.
  • O que se revela nas suas escolhas de cor, de forma, de textura.
  • O que aparece no silêncio do pincel, na pressão do lápis, no gesto de modelar a argila, no rasgar do papel, no espalhar da tinta.

Esse processo te conecta com partes de você que, muitas vezes, estão escondidas, adormecidas, silenciadas ou sufocadas. É uma forma de se perceber, se acolher e, principalmente, se expressar sem precisar passar pela lógica, pela razão ou pela linguagem verbal.

E quais materiais são utilizados na arteterapia?

Aqui entra outra dúvida muito comum, mas igualmente importante. Afinal, se não é sobre saber desenhar, então, como funciona na prática?

Na arteterapia, utilizamos uma variedade enorme de materiais, e eles são escolhidos não pelo critério estético, mas sim pela sua capacidade de oferecer diferentes experiências sensoriais, afetivas e expressivas.

Você pode trabalhar com:

  • Giz de cera, giz pastel seco e oleoso
  • Tintas (aquarela, guache, acrílica),
  • Colagens, papéis coloridos, revistas,
  • Argila, massinha, papel machê,
  • Tecido, linhas, lã, barbante,
  • Elementos naturais como folhas, pedras, sementes, gravetos, areia, entre outros.
  • E muito mais, a imaginação é o limite!

Além disso, vale lembrar que cada material oferece uma experiência sensorial diferente. Alguns são mais fluidos, outros mais firmes, alguns deslizam, outros oferecem resistência. E tudo isso faz parte do processo terapêutico, pois o nosso corpo também responde diferentemente ao material, à textura e à experiência.

A arte como linguagem do inconsciente

E aqui está uma das coisas mais fascinantes sobre a arteterapia. Quando você cria, você ativa não só suas mãos, mas também sua imaginação, sua intuição e suas emoções. Portanto, a criação artística, nesse contexto, não exige lógica, não exige coerência estética, não exige que você “explique” nada.

Ela simplesmente acontece.

E, muitas vezes, esse fazer simbólico permite que conteúdos inconscientes venham à tona de maneira segura e, muitas vezes, surpreendente. A partir daí, a pessoa pode começar a olhar pra isso, refletir, entender, ressignificar, elaborar – e, assim, abrir espaço pra transformação, pra cura, pra expansão e pra construção de novos sentidos sobre si mesma.

Resumindo, de forma bem direta, clara e honesta:

  • Você não precisa saber desenhar.
  • Não importa se é bonito, feio, bem feito ou mal feito.
  • A arte é um meio, um caminho simbólico.
  • O que importa de verdade é o que você sente, percebe e elabora enquanto cria.
  • A arteterapia não é sobre estética. É sobre acolhimento, expressão, cuidado e, acima de tudo, autoconhecimento.
Se você cresceu acreditando que “não é bom em arte”, talvez – e aqui te digo com muito carinho – seja exatamente por isso que seu processo criativo mereça ser resgatado. E não, não como estética. Nem como técnica. Mas sim como cuidado, como linguagem e como uma ponte pra se reencontrar com você mesmo.

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Precisa saber desenhar pra fazer arteterapia?

Fontes e Referências:

SILVEIRA, Nise da. Imagens do Inconsciente. Rio de Janeiro: Contraponto, 1992.

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

UBAAT – União Brasileira das Associações de Arteterapia. Diretrizes de Formação e Código de Ética. Disponível em: https://ubaat.org.br. Acesso em: 01 jun. 2025.

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