Você já se pegou procrastinando, duvidando de si, se comparando, se autossabotando e, além disso, se sentindo preso num ciclo que parece não ter fim? Pois saiba que você não está sozinho. A autossabotagem é, sem dúvida, um dos desafios emocionais mais comuns – e, muitas vezes, ela surge de formas tão sutis que nem percebemos.

Por isso, surge uma pergunta muito válida e extremamente comum: “A terapia ajuda quem quer parar de se sabotar?”
E a resposta é um enorme, acolhedor e potente SIM.

O que é autossabotagem, afinal?

Autossabotagem é, basicamente, quando — de forma consciente ou inconsciente — você se coloca no caminho dos próprios objetivos. Ou seja, são comportamentos, pensamentos e escolhas que, na prática, te impedem de alcançar aquilo que você deseja.

Ela pode se manifestar de diversas formas, como por exemplo:

  • Procrastinação constante;
  • Medo excessivo de errar ou, ainda, de ser julgado;
  • Síndrome do impostor;
  • Abandono de projetos no meio do caminho;
  • Perfeccionismo paralisante;
  • Críticas internas muito fortes (“eu não sou boa o suficiente”, “não vai dar certo”);
  • Dificuldade em manter hábitos saudáveis ou compromissos consigo mesmo.

Portanto, entender que isso não acontece porque você é fraca, preguiçosa ou desorganizada é o primeiro passo. Na verdade, a autossabotagem é, quase sempre, um mecanismo de proteção psíquica – que surge pra te proteger de dores emocionais. Ainda que, ironicamente, ela acabe causando mais sofrimento do que proteção.

Por que a gente se sabota?

Existem muitas causas possíveis – e elas costumam ser bem profundas. Entre as mais comuns, estão:

  • Baixa autoestima e insegurança, que alimentam dúvidas constantes;
  • Medo do fracasso ou, curiosamente, até medo do sucesso;
  • Experiências anteriores de rejeição, crítica, humilhação ou abandono;
  • Crenças limitantes formadas na infância, como “eu não sou capaz”, “eu sempre estrago tudo” ou “não sou merecedora”;
  • Perfeccionismo, que gera paralisia, procrastinação e uma cobrança interna quase insustentável;
  • Dificuldade em lidar com frustrações, erros ou desafios que a vida naturalmente apresenta.

Por isso, é importante entender que não é sobre falta de força de vontade. É, sim, sobre feridas emocionais que ainda não foram olhadas, acolhidas, compreendidas e, principalmente, ressignificadas.

O que a ciência diz sobre a autossabotagem?

A autossabotagem, definitivamente, não é só uma questão de desorganização ou preguiça – na verdade, ela tem raízes profundas no funcionamento da mente.

Estudos em psicologia comportamental, neurociência e psicologia cognitiva mostram que a autossabotagem surge, na maioria das vezes, como um mecanismo de proteção psíquica.

De acordo com a pesquisadora Sandi Mann (2009), autora do livro “Psychology of Procrastination”, procrastinar, se boicotar ou se autossabotar é, muitas vezes, uma estratégia inconsciente pra evitar o desconforto emocional – como medo de falhar, medo de ser julgada, perfeccionismo ou sensação de não merecimento.

Além disso, a neurociência explica que nosso cérebro tem, naturalmente, a tendência de evitar riscos, desafios e desconfortos. Portanto, qualquer ação que gere ansiedade, medo ou sensação de vulnerabilidade pode acionar o sistema límbico – responsável pelas respostas emocionais. Esse sistema, por sua vez, tenta te proteger… ironicamente, te afastando daquilo que te faria crescer.

Além disso, estudos da American Psychological Association (APA) indicam que a autossabotagem está diretamente ligada a padrões formados na infância, experiências de rejeição, traumas emocionais, ambiente familiar disfuncional e, claro, crenças limitantes que foram internalizadas ao longo da vida.

A boa notícia? Tudo isso pode ser ressignificado. E é exatamente aí que a terapia entra como uma aliada incrivelmente poderosa.

Afinal… terapia ajuda mesmo quem quer parar de se sabotar?

Sim. E muito.

A terapia funciona, antes de tudo, como um espaço seguro onde você pode, aos poucos:

  • Identificar os padrões de autossabotagem que estão presentes na sua vida;
  • Compreender de onde eles surgiram, quando começaram e por que continuam acontecendo;
  • Desconstruir essas crenças limitantes e, pouco a pouco, construir novas formas de pensar, sentir e agir;
  • Desenvolver recursos emocionais pra lidar com seus medos, suas inseguranças e seus desafios – sem se paralisar;
  • Fortalecer sua autoestima, sua autoconfiança e sua capacidade de se acolher, se cuidar e se comprometer consigo.

Além disso, durante o processo terapêutico, você começa a perceber que não precisa ser perfeito, nem corresponder a expectativas irreais. Pelo contrário, você aprende, cada vez mais, a se tratar com gentileza, amor e, sobretudo, compaixão.

E como a arteterapia pode ajudar nisso?

A arteterapia é, sem dúvidas, uma ferramenta incrível pra esse processo. Isso porque ela acessa camadas do inconsciente que, muitas vezes, as palavras sozinhas não conseguem alcançar.

Através da criação – seja com tintas, argila, colagens, escrita, desenho ou qualquer outro recurso expressivo – você começa a:

  • Dar forma e cor pra aquilo que te machuca e te impede de seguir em frente;
  • Resgatar sua potência criativa, sua espontaneidade e, principalmente, sua própria voz;
  • Se olhar de um jeito muito mais amoroso, mais profundo e mais verdadeiro;
  • Construir novos significados sobre si, sobre sua história e sobre seu próprio valor.

Portanto, na arteterapia, não importa se você sabe ou não desenhar. O que realmente importa é o quanto você está disposta a se expressar, se acolher e, acima de tudo, se transformar.

3 vivências de arteterapia pra ajudar a quebrar o ciclo da autossabotagem (pra fazer em casa)

Observação importante: Essas vivências são um caminho de autocuidado e reflexão, mas não substituem o acompanhamento profissional. No entanto, elas podem ser um primeiro passo muito potente.

1️⃣ Carta ilustrada para sua voz sabotadora

  • Pegue uma folha e desenhe (ou pinte, cole, rabisque) uma representação da sua voz sabotadora. Como ela seria? Tem cor? Forma? Peso? Textura?
  • Logo após, escreva uma carta pra ela. Diga o que percebe, como ela te impede, mas também reconheça que, de algum jeito, ela tenta te proteger.
  • Finalize agradecendo a preocupação, mas comunique que, a partir de agora, você escolhe um caminho diferente.

Objetivo: externalizar o sabotador, dar forma ao que é interno e, assim, começar a criar um novo diálogo interno mais saudável.

2️⃣ Mapa da autoconfiança

  • Desenhe um mapa – pode ser livre, intuitivo, cheio de símbolos, palavras ou imagens – que represente momentos da sua vida em que você se sentiu forte, capaz, suficiente, confiante.
  • Inclua desenhos, recortes, frases, palavras, setas, cores…
  • Depois, observe: o que esses momentos têm em comum? Que forças existiam aí que você pode resgatar agora?

Objetivo: ativar memórias de potência, fortalecer a autoconfiança e criar âncoras internas contra a autossabotagem.

3️⃣ Roda dos pequenos passos

  • Desenhe um círculo e divida em 6 ou 8 partes, como uma pizza.
  • Em cada fatia, escreva ou desenhe um pequeno passo possível que você pode dar pra romper um ciclo de autossabotagem – seja na vida pessoal, profissional ou emocional.
  • Por fim, decore sua roda, pinte, enfeite e pendure num lugar visível, como lembrete do seu compromisso com você.

Objetivo: transformar ações que parecem gigantes em passos pequenos, seguros e possíveis – saindo, assim, do ciclo da procrastinação e entrando no movimento.

Conclusão: você não precisa mais viver se sabotando.

A autossabotagem não te define. Ela é, na verdade, um padrão aprendido — e, como qualquer padrão, pode ser desconstruído. Terapia, especialmente a arteterapia, é um caminho amoroso, criativo, sensível e profundamente transformador pra te ajudar nisso.

Se você sente que tá na hora de parar de se esconder de si, de se abandonar, de se paralisar… então talvez, só talvez, esse seja exatamente o seu sinal pra começar.

Terapia ajuda quem quer parar de se sabotar
Terapia ajuda quem quer parar de se sabotar?

Referências:

  • Malchiodi, C. A. (2005). A arte que cura. Artmed.
  • McNiff, S. (2009). Arte como cura. Summus Editorial.
  • Ciornai, S. (1995). Arteterapia: O resgate da criatividade na vida. Summus Editorial.
  • UBAAT — União Brasileira de Associações de Arteterapia. https://ubaat.org.br
  • AATERGS — Associação de Arteterapia do RS. https://aatergs.com.br
  • Mann, S. (2009). Psychology of Procrastination.
  • American Psychological Association (APA). Self-Sabotage: How to Recognize and Stop It. https://www.apa.org

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