Por que é tão difícil desenvolver autocompaixão e amor próprio na vida adulta?
Muitas vezes crescemos ouvindo críticas, cobranças e vivendo em ambientes onde nossos sentimentos não foram validados. Por isso, aprendemos a sermos exigentes, duros e até cruéis conosco. Sem perceber, entramos em ciclos de autossabotagem, baixa autoestima e excesso de autocrítica.
No entanto, é fundamental entender que ninguém nasce se odiando. Essa desconexão com o amor próprio é algo aprendido – e, felizmente, também pode ser desaprendido. A arteterapia surge justamente como um caminho seguro e gentil para essa reconexão consigo, porque trabalha não apenas o pensamento, mas também as emoções, o corpo e a expressão simbólica.
Como a arteterapia ajuda a construir autocompaixão e amor próprio
Diferente de terapias focadas apenas na fala, a arteterapia convida você a se expressar de forma simbólica, sensorial e não verbal. Isso significa acessar suas emoções por meio de cores, formas, linhas, texturas e materiais diversos.
De acordo com Ciornai (1995), o processo criativo em arteterapia permite acessar conteúdos inconscientes de maneira segura, favorecendo o acolhimento das próprias fragilidades e o fortalecimento interno.
Portanto, quando você cria, não apenas elabora aquilo que sente, como também aprende a olhar para si com mais compreensão, menos julgamento e, principalmente, mais amor.
Além disso, estudos como o de Silva Jardim et al. (2020) demonstram que práticas artísticas e expressivas favorecem o desenvolvimento da autocompaixão, além de reduzir significativamente o estresse e a ansiedade.
Benefícios da arteterapia para quem busca desenvolver autocompaixão
- ✔ Aumento da aceitação de si mesmo
- ✔ Redução da autocrítica e do julgamento interno
- ✔ Fortalecimento da autoestima de forma genuína
- ✔ Desenvolvimento de uma relação mais amorosa consigo
- ✔ Redução de ansiedade e estresse gerados pela autocobrança
- ✔ Criação de uma nova narrativa interna, mais gentil e compassiva
Como funciona esse processo na prática?
Durante uma sessão de arteterapia, você é convidado a utilizar materiais como papel, tintas, argila, colagens ou qualquer outro elemento que possibilite a livre expressão.
Dessa forma, o que vive dentro de você começa a ganhar forma, cor e textura. Assim, conteúdos emocionais, pensamentos e sensações que, muitas vezes, estão adormecidos ou reprimidos, podem ser expressos com segurança.
Além disso, o processo não exige nenhuma habilidade artística. Afinal, o objetivo não é criar uma obra bonita, mas sim viver uma experiência de conexão, escuta e acolhimento de si.
Ao refletir sobre aquilo que criou, você inicia um movimento interno muito poderoso: começa a enxergar a si mesmo de forma mais amorosa, com mais empatia, compreensão e respeito.
Como a arte atua no fortalecimento do amor próprio
A arte tem o poder de tornar visível aquilo que muitas vezes não conseguimos traduzir em palavras. Portanto, quando você desenha, pinta, modela ou cria, abre espaço para olhar para si de outro jeito – não mais apenas pelo olhar da crítica, mas sim pelo olhar da aceitação.
Durante esse processo, percebe que, assim como sua criação não precisa ser perfeita, você também não precisa ser. Na verdade, é justamente nas imperfeições que mora sua beleza, sua singularidade e sua potência.
Portanto, ao reconhecer suas partes vulneráveis, seus talentos esquecidos e até suas dores, você começa a construir uma relação mais amorosa e compassiva consigo.
Atividades e vivências arteterapêuticas para começar sozinho
Se você sente vontade de experimentar, aqui estão algumas propostas simples, mas muito potentes, que você pode fazer em casa. No entanto, é importante lembrar que, quando realizadas dentro de um processo conduzido por um arteterapeuta, essas vivências se tornam ainda mais profundas, seguras e transformadoras.
1. Desenho do autocuidado
Pegue folhas, lápis ou canetinhas. Desenhe, escreva ou represente tudo o que te faz bem, tudo o que te cuida, te nutre e te acolhe.
2. Carta visual para si mesmo
Em vez de escrever, faça uma carta com imagens, colagens, símbolos e cores que representem uma mensagem de amor, carinho e incentivo para você mesmo.
3. Espelho simbólico
Desenhe um espelho na folha. No centro, desenhe ou cole elementos que representam quem você é além das críticas e exigências: suas qualidades, seus talentos, suas potências e sua essência.
4. Argila do acolhimento
Se tiver argila ou massinha, modele uma forma que represente cuidado, segurança ou acolhimento. Pode ser uma casinha, um coração, uma concha, ou qualquer coisa que faça sentido pra você.
5. Círculo do amor próprio
Desenhe um círculo e preencha-o com cores, formas, texturas, rabiscos ou palavras que expressem como seria um espaço interno onde você se sente seguro, amado e aceito exatamente como é.
Por que fazer com um arteterapeuta é diferente?
Quando fazemos esses exercícios sozinhos, eles já têm um grande valor – promovem autocuidado, bem-estar e momentos de reconexão. Porém, no setting arteterapêutico, o processo é muito mais profundo.
O arteterapeuta não só acolhe e guia o processo, como também ajuda na interpretação simbólica, propõe reflexões que talvez você não faria sozinho e segura o espaço emocional de forma ética e segura. Isso permite que traumas sejam acessados de forma cuidadosa e que o desenvolvimento da autocompaixão se torne algo consistente, não apenas pontual.
Conclusão
Desenvolver amor próprio e autocompaixão não é um destino, mas sim um caminho. E, na arteterapia, esse caminho se constrói com cores, formas, texturas e símbolos que te ajudam a lembrar quem você é de verdade – muito além da autocrítica, das cobranças e dos padrões externos.
Permita-se começar. A cada rabisco, cada colagem, cada pintura ou modelagem, você dá um passo a mais em direção a um relacionamento mais amoroso, gentil e compassivo consigo.

Fontes e referências:
- Ciornai, S. (1995). Arteterapia: O resgate da criatividade na vida. Summus Editorial.
- Rogers, N. (2012). The Creative Connection: Expressive Arts as Healing. Science & Behavior Books.
- Silva Jardim, A. et al. (2020). Art Therapy for Emotional Self-Regulation: A Review. Journal of Aging Studies.
- Martins, D. (2024). Arte‑Terapia, Criatividade e Simbolismo. Editora Psique.
- “The power of art therapy in developing self‑compassion” – artigo online publicado pelo Greater Chicago Art Therapy Institute, que explica como a arteterapia ajuda a criar imagens de si mesmo que permitem romper padrões mentais e desenvolver autocompaixão